segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Cadernos Moleskine, negócios da China e a conversa pra boi dormir
Nada mais sofisticado do que sentar-se em um café de Paris e sacar do bolso um moleskine para registrar suas impressões da viagem, por escrito, como Hemingway; ou ilustrando, como Van Gogh e Picasso, certo?
Certo, exceto pelo fato de que nenhum dos três jamais usou um moleskine, mas versões genéricas de pequenos cadernos de capa preta, com um elástico na parte externa para fechá-los.
Os moleskines, tal como os conhecemos, foram criados em 1997, pela empresa italiana Modo & Modo. Os fabricantes inspiraram-se nos velhos cadernos para criar seu produto e espertamente se apropriaram dessas e de outras personalidades do mundo cultural. Como se Picasso, Hemingway e Van Gogh precisassem de um Moleskine para exercer seus talentos artísticos.
A historinha colou e convenceu meio mundo, que passou a beber Tang achando que se tornaria astronauta.
A empresa foi crescendo e a marca, se valorizando. E, como sempre acontece, atraiu o interesse de grandes corporações. Em 2006, foi arrematada pela SGC Capital Europe, um grupo de investimentos, "com objetivo de desenvolver todo o potencial da marca Moleskine".
E o que faz uma grande corporação? Manda produzir os moleskines na China, pagando U$0.20 a hora a um operário chinês. E aí vem a parte mais engraçada, a justificativa da empresa, publicada disfarçadamente em seu site oficial:
"A maior parte dos nossos produtos vem da China, um país que se orgulha de ter a maior tradição na produção de papel". (Se a tradição é o que interessa, vamos todos beber cerveja egípcia e café árabe). Bem, mas vamos em frente: "Um conjunto de fatores decisivos encontram sua máxima expressão naquela parte do Mundo: a qualidade da matéria prima, o cuidado e a qualidade em cada etapa da produção (Meu Deus, estamos falando do mesmo país?) e a habilidade em combinar produção industrial e artesanal (grande coisa)".
Ainda não acabou. Mais adiante, a empresa meio que se desculpa:
"A China que conhecemos bem e que atende às nossas necessidades de produção não é a China de baixos salários, baixos níveis de qualidade e o total desrespeito aos direitos autorais e direitos civis. É a China que inventou o papel no século 2 A.C. (Ôpa, desce aí uma Tutankamon estupidamente gelada!), é a China que inventou a impressão e os tipos móveis quatro séculos antes de Guttemberg. É a China da longa tradição de trabalhar com papel, de encadernações, dobraduras, caligrafia e tintas nobres."
Pronto, agora a Moleskine inventou um país! Só faltava essa.
Não é só a China que está produzindo papel, não. Aquele turista sentado num Café em MontMartre, rabiscando seu Moleskine, também faz papel. De bobo.
domingo, 6 de setembro de 2009
O Vermelho e o Branco
"Paulo, você é tão comuna que seu filho vai ser ponta-esquerda do América!"
A previsão, feita ao meu pai por um amigo gozador, cumpriu-se em parte. Chuto com a canhota e tive lá minhas pequenas glórias amadoras na ponta-esquerda. E por volta dos 13 anos, me tornei, sim, um fanático torcedor do América Football Club.
A empolgação se justificava. Em 1974, o Mequinha tinha o melhor time do Rio. A escalação repito agora sem esforço: Rogério, Orlando, Alex, Geraldo e Álvaro; Ivo, Bráulio e Edu; Flecha, Luisinho e Gilson Nunes. Um 4-3-3 arrasador que conquistou a Taça Guanabara e disputou as finais dos dois outros turnos, deixando escapar o título no triangular decisivo, para o Flamengo, um time de garotos com Zico, Júnior, Leandro, Geraldo e outros. O resto da história todo mundo conhece.
Quanto ao fervor comunista, esse durou bem menos que a paixão pelo América. Na década de 1980, filiei-me ao PCB, na Escola de Comunicação da UFRJ - éramos chamados pejorativamente de "reformistas" - e um ano foi o tempo que durou essa experiência. Ao contrário da maioria dos "companheiros", eu já trabalhava para me sustentar e, justamente por isso, acabei me tornando banco de alguns espertos, emprestando dinheiro que nunca mais vi. Fui devidamente expropriado.
Hoje, tanto o América como o Comunismo soam anacrônicos. A diferença é que pelo América mantenho aquela paixão adormecida, esperando para aflorar assim que surgir um time decente.
Quem sabe, com Romário, agora vai...
A previsão, feita ao meu pai por um amigo gozador, cumpriu-se em parte. Chuto com a canhota e tive lá minhas pequenas glórias amadoras na ponta-esquerda. E por volta dos 13 anos, me tornei, sim, um fanático torcedor do América Football Club.
A empolgação se justificava. Em 1974, o Mequinha tinha o melhor time do Rio. A escalação repito agora sem esforço: Rogério, Orlando, Alex, Geraldo e Álvaro; Ivo, Bráulio e Edu; Flecha, Luisinho e Gilson Nunes. Um 4-3-3 arrasador que conquistou a Taça Guanabara e disputou as finais dos dois outros turnos, deixando escapar o título no triangular decisivo, para o Flamengo, um time de garotos com Zico, Júnior, Leandro, Geraldo e outros. O resto da história todo mundo conhece.
Quanto ao fervor comunista, esse durou bem menos que a paixão pelo América. Na década de 1980, filiei-me ao PCB, na Escola de Comunicação da UFRJ - éramos chamados pejorativamente de "reformistas" - e um ano foi o tempo que durou essa experiência. Ao contrário da maioria dos "companheiros", eu já trabalhava para me sustentar e, justamente por isso, acabei me tornando banco de alguns espertos, emprestando dinheiro que nunca mais vi. Fui devidamente expropriado.
Hoje, tanto o América como o Comunismo soam anacrônicos. A diferença é que pelo América mantenho aquela paixão adormecida, esperando para aflorar assim que surgir um time decente.
Quem sabe, com Romário, agora vai...
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