domingo, 24 de janeiro de 2010

O que falta para salvar o Planeta



Um francês, um brasileiro e um americano estão se afogando e gritam por socorro. Qual dos três tem maiores possibilidades de ser acudido?

A julgar pelo pedido de socorro em cada idioma, é claro que o americano. O vocábulo tônico HELP, com vogal aberta, pode ser ouvido de longe e chama a atenção de qualquer um, bem ao estilo pragmático da língua inglesa. Ao brasileiro, resta a palavra SOCORRO, paroxítona, mais complicada de pronunciar quando se está com a vida por um fio. Por fim, o trissílabo oxítono AU SECOURS, do francês, praticamente o condena ao afogamento. É AU SE... glub glub.

Essa quase anedota me leva aonde quero chegar, que é a questão ecológica.
Por todo lado, cientistas, ongs e políticos apontam culpados: o gado, pelo aumento do buraco da camada de ozônio; a indústria, pela poluição dos rios; o desmatamento e a queima de combustíveis fósseis, pelo aumento das emissões de CO²...

Só não vi, até agora, ninguém reclamar do uso inadequado de palavras extensas e complicadas para tratar do assunto. Palavras que não possuem o senso de urgência necessário para lidar com uma crise de tais proporções. Desenvolvimento autosustentável (tem ideia de quantas árvores centenárias dá para se derrubar enquanto se pronuncia a expressão?); sustentabilidade; rastreabilidade; biodiversidade; gases do efeito estufa e por aí vai. Fico imaginando quantas resmas a mais de papel reciclado foram gastas na impressão dos documentos do COP 15 com tamanho palavrório.

Não basta controlar as emissões de CO²; temos que reduzir também as emissões de vogais e consoantes, que só servem para consumir celulose e um tempo de que o Planeta não dispõe.
Tivessem os EUA assinado o Tratado de Kioto, nós já estaríamos em outro patamar. Sim, porque, fale-se o que quiser dos americanos, para eles tempo é dinheiro e não o gastam com prolixidades. Dão logo um jeito de abreviar, a começar pelo próprio nome de seu país. Assim, o momento decisivo da II Guerra Mundial, marcado pela invasão da Normandia, virou “Dia D”; “operação” é “op”, “para o seu conhecimento”, “fyi”, “memorando” é “memo” e “tão logo seja possível”, “asap”. E quando não dá para abreviar, eles criam siglas: “modus operandi” é “m.o.”; “Brasil, Rússia, Índia e China”, “BRICS”; polícia federal, “FBI” e banco central, “FED”.

Precisamos do compromisso americano de redução substancial de suas emissões, assim como precisamos de sua capacidade insuperável de produzir siglas. ASAP.

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